
Morar na casa que foi da minha avó nunca esteve nos meus planos. Era uma construção antiga, com quase cem anos, localizada em uma rua silenciosa no interior. As paredes descascadas, o cheiro de madeira velha e o sótão que sempre foi proibido para mim quando criança transformavam o lugar em algo mais assustador do que acolhedor.
“Lugar de coisas velhas, cheio de poeira e lembranças que não importam mais”, dizia minha avó, sempre que eu perguntava o que havia lá em cima.
Quando ela faleceu, a casa ficou para mim. Eu estava recém-divorciada, sem dinheiro para alugar outro espaço, então aceitei a herança e tentei me convencer de que seria um recomeço. Arrumei alguns cômodos, pintei paredes, coloquei plantas e quadros novos para dar vida ao ambiente. No início, parecia que eu realmente conseguiria.
Até que começaram os passos.
As primeiras noites
Na primeira noite, pouco depois da meia-noite, ouvi passos vindo do sótão.
Primeiro, leves. Depois, mais pesados, como se alguém andasse de um lado para o outro. O coração disparou, mas me convenci de que era só a madeira da casa estalando.
Na segunda noite, os passos voltaram — e trouxeram companhia. Era como se alguém arrastasse algo pesado lá em cima. O rangido ecoava pelo teto, tornando impossível dormir.
Na terceira noite, decidi conversar com os vizinhos. Eles apenas riram:
— Ah, essa casa é cheia de histórias. Todo mundo já ouviu coisas estranhas aí. Mas é só imaginação.
Mas não parecia imaginação.
A decisão de subir
Na quarta noite, fui acordada por um barulho alto, como se algo tivesse caído no sótão. O som foi tão real que não havia como negar: havia alguém — ou alguma coisa — lá em cima.
Peguei uma faca da cozinha e a lanterna do celular. Cada degrau da escada rangeu como se gritasse para eu desistir. Quando cheguei ao topo, notei que a porta, que sempre ficava trancada, estava entreaberta.
Empurrei devagar. O ar lá dentro era frio e pesado, com cheiro de mofo e ferro enferrujado.
As caixas antigas estavam reviradas, algumas rasgadas. E no chão, arranhões longos indicavam que algo havia sido arrastado até o canto mais escuro do sótão.
A revelação
Iluminei com o celular, e foi então que vi.
No canto, havia uma cadeira de madeira antiga, mas não era isso que chamou minha atenção.
Ela estava amarrada com cordas. E ao lado, uma caixa aberta revelava objetos que me gelaram a espinha: roupas infantis antigas, bonecas quebradas e fotografias em preto e branco.
Em uma delas, minha avó — jovem, muito mais jovem do que eu lembrava — posava sorridente, mas ao fundo da foto, dentro do sótão, havia uma silhueta escura olhando pela janela.
O sangue sumiu do meu rosto. A lembrança da voz da minha avó ecoou na mente:
“Lugar de coisas velhas, cheio de poeira e lembranças que não importam mais.”
Mas agora eu entendia: não era poeira. Não eram coisas velhas. Era um segredo que ela havia escondido a vida inteira.
Os passos que eu ouvia não eram da casa estalando.
Alguém — ou alguma coisa — ainda estava lá em cima comigo.
Atrás de mim, o chão rangeu.
E antes que eu pudesse virar, uma voz rouca sussurrou:
— Você não deveria ter subido.
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