“Ele saiu de casa para jogar futebol com os amigos, mas nunca chegou ao campo. O que descobri depois mudou tudo.”
Era uma tarde comum de sábado em São Paulo. O céu nublado anunciava chuva, mas dentro de casa o clima já estava pesado havia dias. Meu filho de 17 anos, Lucas, estava diferente: sempre no celular, falando baixo, olhando por cima do ombro como se tivesse medo de ser escutado.
Quando perguntei o que estava acontecendo, ele apenas respondeu:
— Nada, mãe. Só coisa da escola.
Mas eu sabia que havia algo errado. A intuição de mãe não falha.
Naquele sábado, ele saiu apressado. Estava de chuteira, short e uma mochila. Disse que ia jogar futebol com os colegas no campinho do bairro. Esperei que voltasse antes do jantar, mas as horas passaram e nada dele aparecer.
Liguei para os amigos dele. Todos disseram a mesma coisa:
— A gente não viu o Lucas hoje, tia. Ele não veio pro jogo.
Meu coração gelou.
Peguei minha bolsa e saí procurando pelas ruas. Perguntei em padarias, bares, até nos pontos de ônibus. Ninguém o tinha visto.
Já perto das nove da noite, meu celular tocou. Era um número desconhecido. Atendi tremendo.
Do outro lado, uma voz grossa, carregada de sotaque, disse apenas:
— Seu filho não foi jogar bola. Ele está comigo. Se quiser ver ele de novo, faça exatamente o que vou mandar.
Minhas pernas fraquejaram. A ligação caiu.
Corri para a polícia, mas no fundo eu sabia: havia algo muito maior por trás disso. Algo que meu filho vinha escondendo de mim e que agora colocava sua vida em risco.
E então, no dia seguinte, recebi um envelope pardo embaixo da porta. Dentro havia uma foto do meu filho… e ao fundo, algo que fez meu sangue gelar.
O que estava nessa foto mudou para sempre a minha vida.
Com as mãos tremendo, tirei a fotografia do envelope. Meu filho, Lucas, estava sentado em uma cadeira de plástico, com fita adesiva prendendo seus pulsos. O olhar dele era de puro pavor. Mas o que mais me assustou foi o detalhe ao fundo: na parede, havia um símbolo pintado em vermelho — uma espécie de triângulo cercado por círculos. Eu já tinha visto aquilo antes.
Meu coração disparou. Era o mesmo símbolo que aparecia nos muros da nossa rua meses atrás, sempre à noite, como pichações misteriosas. Os vizinhos comentavam, mas ninguém sabia de onde vinham.
Na manhã seguinte, outro envelope apareceu. Dessa vez, com uma carta:
“Seu filho se envolveu com quem não devia. Agora ele paga o preço. Se quiser que ele volte, traga R$ 50 mil até a estrada velha, perto do quilômetro 22. Venha sozinha.”
Eu não tinha esse dinheiro. Liguei para a polícia, mas eles disseram que o caso era complicado, que precisavam de tempo. Tempo era o que eu não tinha.
Decidi ir até lá sozinha.
Na estrada abandonada, o silêncio era cortado apenas pelo som do vento. Quando cheguei ao ponto indicado, vi faróis de um carro iluminando a escuridão. Um homem alto, de capuz, desceu com uma arma na cintura.
— Trouxe o que pedimos?
Antes que eu pudesse responder, uma sirene cortou a noite. Viaturas surgiram dos dois lados da estrada. A polícia tinha me seguido em segredo. Os homens encapuzados tentaram correr, mas foram cercados.
E então, de dentro do carro, o policial trouxe meu filho. Chorando, ele caiu nos meus braços.
Depois, no depoimento, descobri a verdade: Lucas tinha se aproximado de um grupo perigoso pela internet, achando que seria “apenas uma aventura”. Mas era uma facção que recrutava jovens, e ele acabou se tornando isca sem perceber.
O resgate não foi o fim. A lembrança daquela foto, daquele símbolo e do medo no olhar do meu filho ficaram marcados em mim para sempre.
Naquela noite, aprendi duas lições:
E no Brasil, o perigo pode estar escondido atrás da esquina mais comum.
Nem sempre conhecemos de verdade a vida secreta dos nossos filhos.
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